quarta-feira, 26 de setembro de 2007

> Fazendo Amigos


Este artigo foi escrito em 2004...
Domingo, dia 26/09, fui à missa em homenagem aos 81 anos de Seu Raimundo. Meu sogro é uma pessoa cativante: tranqüilo, pausado, de voz mansa; tem o dom de angariar respeito por sua forma simples de se dirigir às pessoas; não quer dizer, entretanto, que seja uma pessoa passiva, ao contrário: de mansinho vai conquistando tudo o que ele quer; faz parecer que nós é que queremos fazer para ele aquilo que, para não incomodar, ele dispensaria.


Admiro meu sogro também por sua disciplina que o conduziu a uma vida financeiramente tranquila e pela qual cultiva vida mais saudável que a média dos homens de sua idade. Fez 81e fará 100, assim espero.
Durante a missa não pude me furtar à lembrança do Seu Jucá que, se estivesse entre nós, teria completado 84 anos em fevereiro.

É óbvio que a ocasião era bastante propícia para que eu me lembrasse de meu Pai, mas não creio que foi em si aquela circunstância que fez a ponte entre o meu consciente e a memória que, vez por outra, me traz sua imagem; até porque, se estivéssemos comemorando seu aniversário não seria numa missa, mas provavelmente em um grande almoço em um restaurante onde ele insistiria em pagar a conta.

De fato não há grandes semelhanças entre Seu Raimundo e Seu Jucá: começando pelas missas e pelas contas dos restaurantes, várias são as oposições de suas personalidades; Seu Jucá era agitado e zuadento, preferia conseguir as coisas mais pela determinação que pelo convencimento, fazia-nos querer atendê-lo para fugir da briga.

Há, entretanto, pelo menos uma característica de extrema semelhança entre Seu Jucá e Seu Raimundo: a capacidade de conquistar amigos.

Tenho muita dificuldade em compreender como comportamentos tão diferentes podem resultar em conquistas tão parecidas, mas ambos são donos de plantel imensurável de amigos. Comove-me perceber o quanto ambos são queridos em suas rodas de amigos; ainda hoje, mesmo passado quase cinco anos da morte do meu Pai, quando encontro algum conhecido seu, sinto a mesma sensação de quando encontro alguém que conhece o meu sogro, a convicção de que eles souberam fazer amigos...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

> Sabe com quem está falando?!

Já li vários artigos e ouvi comentários sobre a prática deplorável do uso de prerrogativas profissionais ou de parentesco para se auferir vantagens em determinadas situações; o velho costume da “carteirada”, própria de agentes públicos inescrupulosos ou de profissionais de imprensa alheios à ética ou, ainda, dos afilhados ou nepotes de gente graúda, enfim, aqueles que ao primeiro aperto vociferam a vulgar mas eficiente pergunta: “sabe com quem está falando?”.

Não resta dúvida de que se trata de prática abominável e alio-me em primeira hora aqueles que denunciam e condenam comportamentos desse tipo.

Hoje, entretanto, quero falar do reverso da moeda: fiquei sabendo que a esposa de um amigo - gente de bem, de formação moral e cívica irretratável - foi submetida a uma via Crucis na tentativa de ver atendida sua solicitação de substituição de um produto recebido em desconformidade com as especificações do que houvera adquirido; ou seja, comprou um coisa, recebeu outra. Nas várias incursões junto à empresa vendedora, resistiu inicialmente ao convencimento de que o produto entregue estava conforme sua solicitação, depois à afirmativa de que, apesar de diferente daquele que havia sido vendido, era bem melhor e finalmente, a muito custo, à promessa de substituição em um prazo de 30 dias.

Passados 15 dias do prazo acordado para a substituição do produto, e recebendo nova promessa para troca em “mais ou menos” 10 dias, a esposa desse meu amigo, em um ato desesperado, recorreu constrangida à velha, surrada, mas eficiente indagação: “sabe com quem está falando?”, nesse momento ela revelou que era esposa de jornalista e que buscaria a mídia necessária para expor seu calvário. Depois dessa revelação foi atendida em 48 horas, com o produto reposto da forma como solicitara desde o primeiro momento.
Faço eu, agora, outras perguntas: se podia ser feito por bem, porque esperar pelo mal? Porque levar as pessoas ao extremo? Porque não ouvir o cliente e compreender seus anseios? Afinal, nunca sabemos ao certo com quem estamos falando.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

> Serviço Público

Quando meu amigo proferiu entre os dentes a “frase”, acho que não consegui disfarçar minha irritação, embora tenha ficado calado. Sei que sou assim, fico vermelho de raiva, de alegria ou de encabulação; e como essa frase maldita me persegue por anos, desde que tive a consciência de que ela conspira para uma grande injustiça contra a qual não consigo erguer uma bandeira, devo ter ficado com a face completamente tomada por esse rubor denunciante; mas há sempre a possibilidade dele ter entendido que daquela forma me aliava a ele em sua indignação, quando, na verdade, indignava-me com sua injúria.

No restaurante, o fato de ter sido mal atendido, inspirou meu amigo para a “frase”, mas já ouvi muita gente boa tentar ferir os brios das empresas e dos empresários esbravejando - “isso aqui parece uma empresa pública” – querendo sempre denotar mau atendimento, desorganização, descompromisso ou toda sorte de desqualificação do serviço oferecido.

É bem verdade que o serviço público no Brasil tem deixado a desejar, principalmente quando consideramos que é uma atividade cuja remuneração se dá, em geral, de forma antecipada, por intermédio dos impostos, e que em alguns casos ainda se complementam com taxas e tarifas nada irrisórias; mas não considero razoável entender que uma questão conjuntural possa definir a natureza de uma atividade.

Penso que o serviço público é, por essência, o modelo que deve balizar qualquer compêndio sobre prestação de serviços; que as empresas privadas devem buscar nos princípios do serviço público a doutrina de modelagem de seus programas de qualidade e, dessa forma, quando se entender bastante qualificada, deve ter como lema uma outra frase - “trabalhamos aqui como se fossemos uma empresa pública!”.

Tudo isso pode parecer loucura, mas não me refiro aqui ao que acontece de fato na maior parte dos órgãos e empresas da Administração Pública; refiro-me ao que deveria acontecer, como deveria ser e como é em algumas raras exceções. A essência do serviço público é servir ao público com legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficácia.

Não obstante isso tudo seja difícil de reunir em um mesmo ato de servir, a busca para alcançar esse ato completo deve balizar qualquer atividade; e, quer acreditem ou não, conheço servidores públicos que têm como meta esses preceitos.

É perceptível que há uma grande e contaminante quantidade de servidores públicos que não foram formados para serem servidores públicos e que, muitas vezes, sequer alcançam o significado da expressão que designa sua profissão; mas é fato, embora talvez não igualmente perceptível, que muitos outros sabem e agem no sentido do verdadeiro serviço público.

Não sei se me faço entender, mas, gostaria de concitar os demais a pensar um pouco assim: quando alguma instituição apresenta bons serviços ao público ela está trabalhando com a essência do serviço público, independente de quem é o dono de seu capital ou para onde vão seus lucros.

sábado, 1 de setembro de 2007

> Nossos filhos não são nossos...

Nossos filhos não são nossos... Repito essa frase hoje apenas para começar esse texto, e não como a repeti em outras ocasiões, levianamente, acompanhando a linha de raciocínio que nos impele a crença de que criamos nossos filhos para o mundo, que não temos qualquer direito sobre eles e que eles deverão seguir seus caminhos tão logo fortaleçam suas asas.

Penso que falei levianamente porque fala com leviandade quem não sabe o que está dizendo; e, de fato eu, não sabia; só achei que os outros sabiam e repeti por achar lógico, mas a lógica nem sempre é a verdade.

Bastou que meus filhos viajassem simultaneamente, um para passar seis meses no exterior e a outra para prestar o concurso vestibular em outra cidade, que me dei conta da impropriedade que era repetir aquela frase.

Não, não criei meus filhos para o mundo, eu os criei para mim e eles serão meus para sempre.
Também sei que é fato que eles seguirão seus caminhos tão logo lhes cresçam as asas e que terão outras prioridades na vida, que não seus pais; mas nem por isso admito que deixarão de ser meus e que serão do mundo.

Dia-a-dia, enquanto crescem e ficam independentes, entendo que fortalecem mais esse laço que os tornam meus e me tornam seus, principalmente porque essa pertença ocorre, então, por escolha, não mais por dependência.

Quando me orgulho por suas conquistas e por saber que conseguirão dar curso às suas vidas mesmo quando eu não mais estiver por aqui, e que o farão de maneira digna e pujante, não estou em momento algum abdicando da minha posse sobre eles; eles são meus filhos e assim o serão para sempre, porque eu os criei para serem meus filhos.

Muito provavelmente eles serão cônjuges, pais e amigos de outras pessoas, mas nunca deixarão de ser meus filhos.

Assim, consciente, jamais repetirei aquela frase, senão para contestá-la; e para que não reste qualquer dúvida, doravante, quando me referir a eles, passarei a escrever meusfilhos – assim mesmo, juntinho - para não deixar qualquer espaço em que alguém possa sugerir que eles não são meus.