terça-feira, 9 de outubro de 2007

> Gerundiando


Li um artigo sobre o uso inadequado e abusivo do gerúndio na comunicação; no artigo condenam-se essas formas pseudomodernas de informação usadas principalmente nos atendimento de tele marketing nas empresas brasileiras – vou estar transferindo sua ligação para outro setor; o senhor vai estar recebendo visita de nossos consultores; vamos estar fazendo, vamos estar dizendo, vamos estar esperando, e porá aí vamos indo...

Não resta dúvida sobre essa impropriedade e, assim como o autor do artigo, repudio tais falácias. Entretanto, preocupa-me mais ainda o fato da mania que se arraigou pela falação estar, sorrateiramente, a infiltrar-se na ação.


- To descendo, Pai! – grita minha filha em frente ao espelho retocando a maquilagem ou pendurando as bijuterias, enquanto, no carro, eu continuo aguardando, por mais 10 ou 15 minutos, para levá-la ao shopping.


-Tô chegando! – informa meu filho pelo celular quando lhe pergunto onde ele está, mas sem me prevenir que essa expressão significa que vai despedir-se da namorada, descer do apartamento até o carro e percorrer os cerca de dois quilômetros entre as residências, isso se não parar para um pequeno lanche.


Não é raro, pois, ouvir afirmação cujo tempo verbal não guarda qualquer correlação com o tempo real da ação; na verdade, isso tem ficado tão freqüente que já penso que devia me atualizar e catalogar o significado de cada gerúndio desses, que, obviamente será diferente dependendo da situação e da pessoa que o utilize.

- E minha encomenda? – Esta chegando! – então devo entender que ala já saiu de sua origem, embora não me deva afoitar a ir para a porta esperar, posto que esse “chegando” pode compreender alguns quilômetros de estrada. – E o trabalho que solicitei? – Estou terminando! – assim devo me tranqüilizar, posto que há grande possibilidade da tarefa demandada já ter sido iniciada.