sábado, 21 de junho de 2008

> Rubra Face


Já, algumas vezes, escrevi sobre minha enorme e denunciante capacidade de enrubescer a face por qualquer motivo. Fico vermelho de raiva, de alegria, de indignação, de encantamento, de satisfação, de encabulamento... Acho que isso não é uma característica peculiar e talvez seja até muito natural nas pessoas com peles tão claras quanto a minha; mas, de forma particular, isso me incomodou durante muito tempo.

Diante desses sinais, com grande frequência, as pessoas pensam interpretar meus sentimentos pela cor da minha face e travam suas conversas comigo não com a percepção do que eu disse, mas com que cor eu disse isso ou aquilo. É como se não me escutassem e apenas tentassem discernir meus tons de vermelho.

Essa interpretação pelo tom do vermelho, entretanto, pode levar a ledos enganos, pois nem mesmo eu sei, em todas as vezes, o que significa para mim a face ardendo com sangue que dela se apropria. Muitas vezes, quando me percebo ruborizado, pergunto-me se estou zangado ou apenas agitado, se estou encabulado ou indignado, se estou encantado ou simplesmente alegre...

É fato, entretanto, que fico vermelho por qualquer coisa e é inevitável que as pessoas dêem suas próprias interpretações a esse fenômeno.

Se me incomodava essa transparência incontida, já não me incomoda tanto hoje em dia. Aprendi a deixar que as pessoas interpretem meu rubor da forma que lhes aprazer. Aprendi, principalmente, que quanto mais diferentes tons de vermelho elas percebem em minha face, mais elas conseguem me conhecer e se aproximar de mim.