domingo, 5 de janeiro de 2020

EU ESTUDEI NO INSTITUTO NÓBREGA


Naquele sábado à tarde revi minha infância nos olhos dos meus amigos. Foi em um encontro de colegas de colégio de há quase meio século. Não sei como funciona isso na cabeça de vocês, mas a minha novamente se impregnou da atmosfera que só aquela escola podia nos propiciar.
Verdade é que não temos mais as mesmas caras, os mesmos corpos e as mesmas mentes, mas com a turma quase toda ali no encontro, acompanhados da diretora e de dois professores, juntos, parecia tudo muito igual. Alguém até lamentou porque as coisas mudaram com o tempo; eu também tenho saudade de muitas daquelas coisas boas, mas não lamento que tenham mudado, ao contrário, regozijo-me por ter vivido aqueles momentos para poder lembrar deles agora.
Hoje tenho consciência que aqueles não eram tempos fáceis, só depois entendi porque alguns alunos tiveram que se transferir daquela escola para escolas públicas e daí veio o reconhecimento do esforço que meus pais fizeram para me manter lá. Certo dia, tive oportunidade de dizer a eles como eu fora privilegiado pela educação que eles haviam me proporcionado.
 No instituto Nóbrega sorvi todas as sementes que polinizavam naquela atmosfera de desafio e de acolhimento, de austeridade e de generosidade, de medo e de coragem, de vigilância e liberdade; cultivei o desejo de que houvesse “livros e mais livros no mundo” porque lá aprendi que os livros eram as fermentas para igualar as pessoas e se hoje tenho a consciência de que o desenvolvimento social só é possível por meio da educação - “para os olhos dos povos abrir” - é porque sei que “a treva é um mal tão profundo que estrangula a esperança e o porvir”.
No sábado revi minha infância pelos olhos daqueles amigos e consolidei a certeza de que hoje sou um adulto forjado naquela criança que merendou os cachorros quentes feitos pelo Alberto, que ouviu os conselhos da austera Dona Ione, que se apaixonou pela língua portuguesa nas aulas  da Dona Zilma e da Dona Mirtô, que  entendeu matemática com a Dona Selma, que encantou-se por Estudos Sociais com o Professor Nogueira e com a Professora Ângela, que internalizou as ciências com o Professor Roberval, que se arriscou nas artes com o Professor Renato, que descobriu outro idioma com o Professor Haroldo, que debateu moral e cívica com a Professora Rocicler e que aprendeu tanto mais com outros que até posso não lembrar os nomes, mas que certamente participaram dessa construção, porque eu estudei no Instituto Nóbrega.

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