Naquele sábado à tarde revi minha infância nos olhos dos meus amigos.
Foi em um encontro de colegas de colégio de há quase meio século. Não sei como
funciona isso na cabeça de vocês, mas a minha novamente se impregnou da
atmosfera que só aquela escola podia nos propiciar.
Verdade é que não temos mais as mesmas caras, os mesmos corpos e as
mesmas mentes, mas com a turma quase toda ali no encontro, acompanhados da
diretora e de dois professores, juntos, parecia tudo muito igual. Alguém até
lamentou porque as coisas mudaram com o tempo; eu também tenho saudade de muitas
daquelas coisas boas, mas não lamento que tenham mudado, ao contrário, regozijo-me
por ter vivido aqueles momentos para poder lembrar deles agora.
Hoje tenho consciência que aqueles não eram tempos fáceis, só depois
entendi porque alguns alunos tiveram que se transferir daquela escola para escolas
públicas e daí veio o reconhecimento do esforço que meus pais fizeram para me manter
lá. Certo dia, tive oportunidade de dizer a eles como eu fora privilegiado pela
educação que eles haviam me proporcionado.
No instituto Nóbrega sorvi todas
as sementes que polinizavam naquela atmosfera de desafio e de acolhimento, de
austeridade e de generosidade, de medo e de coragem, de vigilância e liberdade;
cultivei o desejo de que houvesse “livros
e mais livros no mundo” porque lá aprendi que os livros eram as fermentas para
igualar as pessoas e se hoje tenho a consciência de que o desenvolvimento
social só é possível por meio da educação - “para
os olhos dos povos abrir” - é porque sei que “a treva é um mal tão profundo que estrangula a esperança e o porvir”.
No sábado revi minha infância pelos olhos daqueles amigos e consolidei
a certeza de que hoje sou um adulto forjado naquela criança que merendou os
cachorros quentes feitos pelo Alberto, que ouviu os conselhos da austera Dona
Ione, que se apaixonou pela língua portuguesa nas aulas da Dona Zilma e da Dona Mirtô, que entendeu matemática com a Dona Selma, que encantou-se
por Estudos Sociais com o Professor Nogueira e com a Professora Ângela, que internalizou
as ciências com o Professor Roberval, que se arriscou nas artes com o Professor
Renato, que descobriu outro idioma com o Professor Haroldo, que debateu moral e
cívica com a Professora Rocicler e que aprendeu tanto mais com outros que até posso
não lembrar os nomes, mas que certamente participaram dessa construção, porque
eu estudei no Instituto Nóbrega.
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