terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Pessoa Natural

Para discutir a natureza humana costumamos confrontar as ideias de Hobbes e Rousseau; dois ilustres pensadores que entendiam o homem ora como um algoz da sociedade, ora como vítima dela.

Algoz ou vítima, agindo ou reagindo, o fato é que acredito que os seres humanos nascem com algumas qualidades que os podem acompanhar até a morte ou podem se desprender de suas personalidades no curso da vida. Não sei se isso acontece por decisão própria - como afirmaria Hobbes, ou se por imposição da sociedade - como assentiria Rousseau, mas, certamente, é essa mistura de qualidades perdidas e preservadas, em maior ou menor grau, que diferencia um ser humano de outro.

Penso que duas dessas qualidades são a base da existência humana. Perdendo-as, o homem perde a condição de ser humano. Preservando-as plenamente, exerce essa condição na plenitude.

A primeira delas é a capacidade de indignar-se com o que é indigno. Quando perde essa capacidade e começa a aceitar de forma passiva o que o incomoda, ou quando não o incomoda o que deveria incomodar, ou quando, enfim, “nada fede”, o homem abandona seus valores.

A outra é a capacidade de encantar-se com o que é encantador. Quando perde essa capacidade e deixa de perceber as boas coisas da vida, quando nada lhe apraz, quando, enfim, “nada cheira”, o homem não desenvolve valores.

É bem verdade que o que “fede” e o que “cheira” pode ser diferente para cada pessoa, mas o essencial é que cada pessoa desenvolva e defenda os valores que motivam sua existência. A indignação e o encantamento são instrumentos para isso.

2 comentários:

Jovina Gomes Benigno disse...

Flávio,
Penso que um grande valor de quem escreve, quando não escreve ficção, é ser coerente com o que declara e essa coerência é contundente na sua escrita , especialmente para quem convive ou conviveu com você, como eu tive o privilégio de conviver; daí afirmo que seu texto não me surpreendeu pela clareza e perfeita construção, você é craque no "manejo" de nossa querida língua, bem como na lida diária, na superação de grandes desafios.
A abordagem dos temas indignação e encantamento foi de uma grande felicidade, pois faz-nos refletir sobre o “que” e “como” nos movemos.
Parabéns, o texto é ótimo.
Abraço
Jovina

Anônimo disse...

Encantar-se. Indignar-se.Gostei da forma como você selecionou essas características e escreveu sobre elas. Parabéns e obrigada por incluir o Blogdotriunfo.
Liduína Benigno